Projeto de conservação da biodiversidade conduzido pela SPVS promete dar início a restauração mais de 300 hectares de florestas contíguas aos manguezais na região, beneficiando também a comunidade
Uma iniciativa que trabalha para garantir o futuro dos manguezais no litoral paranaense vem ocorrendo em uma região que é conhecida como o “coração” do maior contínuo ainda em bom estado de conservação do bioma Mata Atlântica, um recorte geográfico que tem sido concebido a partir de um esforço supra institucional: a Grande Reserva Mata Atlântica. A iniciativa busca construir um território onde conservação da natureza e desenvolvimento econômico caminham lado a lado. O litoral do Paraná, apesar de ser o segundo menor do país em extensão, guarda inúmeras belezas naturais que vão desde áreas montanhosas às belas baias que formam a maior área de manguezais da região Sul, e a quinta maior do país.
A Grande Reserva Mata Atlântica é uma área que reúne três milhões de hectares de floresta nativa, localizada entre os Estados do Paraná, São Paulo e Santa Catarina. O território é um importante patrimônio natural, cultural e histórico e um valioso e singular destino de turismo de natureza, nacional e internacional.
No final da década de 1990, A SPVS (Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental), uma organização do terceiro setor com sede em Curitiba, em parceria com a The Nature Conservancy e empresas privadas, viabilizaram um dos primeiros projetos visando conciliar o combate ao aquecimento global com a conservação da biodiversidade do Brasil.
O projeto se consolidou ao longo dos anos seguintes e foram adquiridas antigas fazendas de búfalos, que mesclavam áreas degradadas e áreas de floresta em bom estado de conservação. Essas áreas foram transformadas em três reservas: Reserva Natural das Águas, Reserva Natural Guaricica e Reserva Natural Papagaio-de-Cara-Roxa, que somadas tem área próxima a 19 mil hectares. Somente nos últimos três anos, as reservas geraram cerca de seis milhões de reais, anualmente, para os municípios de Antonina e Guaraqueçaba por meio de ICMS Ecológico, além fornecerem água para toda a cidade de Antonina e a comunidade da Ilha Rasa, em Guaraqueçaba.
Ao longo dos anos, um extenso trabalho vem sendo realizado para dar sequência a esforços de restauração das áreas degradadas, o que é reconhecido como um dos mais longevos projetos de restauração ecológica em curso contínuo no país. Já são quase 25 anos investindo recursos, energia e muito suor para fazer a terra compactada pelos búfalos e áreas de vegetação nativa que foram exploradas com a retirada de madeira recobrarem sua biodiversidade. O trabalho nas Reservas Naturais da SPVS já transformou a vida de muitas pessoas por meio da oferta de oportunidades profissionais dignas, cursos, formações e fomento a atividades alinhadas com a conservação da natureza no território.
O litoral do Paraná abriga uma das maiores áreas de manguezais ainda em bom estado de conservação do país, como os que podem ser encontrados na Estação Ecológica (ESEC) de Guaraqueçaba, com 4,370,15 hectares. Essa Unidade de Conservação é gerida pelo ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade) e faz fronteira com diversas comunidades tradicionais, como Ilha Rasa (Rasa, Ponta do lanço, Almeida e Mariana), Tromomó, Itaqui, Medeiros, entre outras, como uma das Reservas Naturais da SPVS. Os manguezais são ambientes muito peculiares, nos quais algumas espécies de plantas conseguem se estabelecer em solos salinos e com pouco oxigênio e, ainda assim, armazenar grande quantidade de carbono, além de representar um berçário fundamental para a vida marinha.
Nesta delicada região, berço dos raros papagaios-de-cara-roxa, caranguejos-uçá e botos-cinza ainda restam diversas áreas impactadas por escolhas do passado. Na Reserva Natural Papagaio-de-Cara-Roxa, a SPVS, por meio do Programa Floresta Viva do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e com apoio da Petrobrás e FUNBIO (Fundo Brasileiro para a Biodiversidade), desenvolve mais uma etapa do seu programa de restauração ecológica. Dessa vez, o desafio é dar sequência a restauração de locais ainda dominados pelo capim invasor Brachiaria sp, herança dos búfalos que permanece mesmo após mais de 20 anos de retirada dos animais da região. Outra técnica utilizada no projeto será o enriquecimento de áreas de floresta em estágio inicial com espécies presentes nos ambientes mais conservados, com objetivo de acelerar o processo de restauração ecológica e aumentar a disponibilidade de alimento e abrigo para a fauna local.
Para cumprir essa missão, a SPVS fez um extenso levantamento dos 316 hectares que são contíguos às áreas de manguezais e serão restaurados no projeto. O esforço incluiu voos de drone em toda a área, coletas de solo e caracterização da vegetação. Todo esse trabalho permitiu a criação de um mapa detalhado que agora vai possibilitar que as espécies sejam plantadas no local mais adequado para seu desenvolvimento. As árvores serão identificadas uma a uma por meio de uma plataforma de georeferenciamento pioneira desenvolvida pela instituição que permitirá o posterior monitoramento de seu crescimento.
Além disso, o projeto contempla uma intensa interação com a população de entorno, com promoção de cursos, capacitações e construção coletiva de instrumentos para melhoria da gestão dos manguezais em parceria com o órgão gestor da área, o ICMBIO.
As ações em curso buscam construir uma nova visão para o território, baseada na conservação da biodiversidade e impulsionada por um turismo responsável, com uso consciente dos recursos naturais e valorização da cultura caiçara, o que irá trazer prosperidade econômica e harmonia no convívio das pessoas e natureza neste pedacinho do paraíso escondido no litoral norte do Paraná.
Artigo escrito por Rodrigo Condé é Engenheiro Florestal pela UFRRJ e Mestre pela UFPR. É especialista em sistemas agroflorestais e restauração florestal na região da Grande Reserva Mata Atlântica (PR, SC e SP), sócio da re.nativa – soluções inspiradas na natureza e consultor da SPVS.
Edição: Claudia Guadagnin, assessora de imprensa da SPVS e da Grande Reserva Mata Atlântica.