A proximidade do dia das eleições de 2022 promove uma busca mais intensa de cada cidadão por suas opções de voto. Os pleitos despertam interesse da maioria das pessoas no foco principal das atenções, voltadas aos cargos considerados de maior relevância. A discussão tende a ficar muito limitada às posições como as de presidente e governador. Ainda não há uma percepção mais consistente sobre a importância dos cargos considerados de menor expressão, o que, em geral, não garante um processo mais seletivo e cuidadoso dos eleitores. Essa menor dedicação no processo de escolha precisa ser reavaliada, porque são as cadeiras no Congresso e na Assembleia Legislativa de cada Estado que terão o poder de tomar muitas decisões que influenciam profundamente nossas vidas.
Sem deixar de considerar a importância de escolhas conscientes e responsáveis em relação aos cargos de presidente e governador, as demais decisões de cada eleitor devem ser consideradas de igual importância. E estas escolhas requerem um gasto maior de energia, se realmente quisermos realizar votos conscientes.
Aqui no Paraná, há uma histórica maior estruturação de grupos setoriais, que sustentam candidaturas com mais suporte financeiro e político e que, igualmente, promovem um alinhamento estreito com o executivo. Ao longo dos anos, a maioria dos políticos eleitos por nós está comprometida firmemente com pautas específicas destes grupos. Este fenômeno acaba gerando uma condição extremamente favorável para a constituição de uma maioria hegemônica, permitindo as tomadas de decisões de forma bastante direcionada.
A consequência, que pode ser facilmente percebida, é o apoio incondicional ao poder Executivo e a aprovação de leis que são direcionadas aos interesses de apenas um setor, em detrimento de outros temas de enorme relevância, em que toda a sociedade é beneficiada e não apenas uma fração dela. O contexto de dominação praticamente total não representa uma condição favorável para a adequada discussão de nossos problemas comuns. Cabe uma avaliação criteriosa sobre esse cenário.
Gerar esforços em busca de uma representatividade mais plural e que esteja mais comprometida com o interesse geral da sociedade é um tema de enorme relevância. É evidente que o poder excessivo de um grupo setorial não necessariamente atenda aos interesses de toda a sociedade.
Dentre os maiores desafios que enfrentamos na atualidade está a adequada gestão do nosso patrimônio natural, um bem de todos e que nos permite gerar riquezas e bem estar, caso exista um respeito aos limites que precisam regrar a exploração econômica do nosso território. Suplantar esses limites, desrespeitando uma agenda adequada de proteção ao meio ambiente pode até gerar ganhos localizados, mas o resultado paralelo sempre acarreta prejuízos compartilhados com toda a sociedade, preponderantemente para as faixas menos favorecidas.
A despeito da tentativa de muitos agentes públicos de amenizar a forma de postular pela manutenção das linhas de desenvolvimento mais convencionais, a falsa dicotomia entre o desenvolvimento e a proteção do patrimônio natural ainda está presente no ideário da maioria de nossos políticos.
Portanto, localizar candidatos que têm realmente um compromisso sério com uma agenda que insira a proteção da natureza nas prioridades da gestão pública não é tarefa fácil. É importante perceber que a justificativa para amparar muitas iniciativas que ocasionam a degradação do meio ambiente, ainda presentes em nosso dia a dia, vem ganhando novas nuances.
O que antes representava o discurso do desenvolvimento a qualquer custo, agora insere adjetivações como a “sustentabilidade” na dialética corrente. É evidente que apenas ajustes no discurso, sem que mudanças efetivas de postura sejam apontadas, não resultarão em avanços de interesse social. Não podemos seguir com a falta de apoio mínimo à gestão do Patrimônio Natural do Paraná. Não se trata de comprometer apenas o nosso futuro. As consequências da destruição exacerbada de nossas áreas naturais já acumulam um conjunto de prejuízos sociais e econômicos extraordinários.
A última crise hídrica que assolou a Região Metropolitana de Curitiba e quebrou drasticamente a safra agrícola do Estado é consequência da irresponsabilidade de agentes públicos que assumiram posições, a partir dos nossos votos, nos últimos anos.
Um movimento denominado “Aliança pela Conservação do Patrimônio Natural do Paraná”, assinada por um conjunto de instituições, corporações e pessoas físicas, está oferecendo a todos os candidatos a cargos públicos destas eleições de 2022, a oportunidade de assumir um compromisso no qual a conservação da natureza seja assumida como uma prioridade. Esta é uma colaboração que tem por propósito facilitar uma busca mais qualificada de nossos candidatos. Uma oportunidade para que o voto de cada um de nós tenha um endereçamento mais coerente e direcionado à busca de mudanças que precisam ocorrer emergencialmente em nosso estado e em nosso país. O documento pode ser acessado CLICANDO AQUI.
Até o momento, os seguintes candidatos já assinaram o documento em prol da conservação da natureza:
Partido Verde (PV)
Desiree 123 (PDT) – Senadora
Nelton Friedrich 1212 (PDT) – Deputado Federal
Ricardo Gomyde 12 (PDT) – Governador
Roberto Requião 13 (PT) – Governador
Ana Júlia 13213 (PT) – Deputada Estadual
Angela Afonsina 50112 (PSOL) – Deputada Estadual
Carol Arns 19000 (PODEMOS) – Deputada Estadual
Fernando Rosenbaum 13018 (PT) – Deputado Estadual
Goura 12108 (PDT) – Deputado Estadual
Maria Leticia 43000 (PV) – Deputada Estadual
Paulo Porto 13513 (PT) – Deputado Estadual
Professor Mocellin 43333 (PV) – Deputado Estadual
Incorporar a agenda da conservação da natureza nas nossas práticas de desenvolvimento representa uma demanda imprescindível – e isso não ocorrerá sem que mudanças efetivas no comportamento da sociedade e dos nossos políticos sejam assumidas. As eleições são uma grande oportunidade, se soubermos usar deste direito com responsabilidade e senso de interesse público.
Texto escrito pela Aliança pela Conservação do Patrimônio Natural do Paraná.
A Carta é assinada por um conjunto de instituições e pessoas físicas preocupadas com o futuro da conservação da biodiversidade no Brasil. A ambientalista Íris Bigarella, de 99 anos, é uma delas.