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SPVS apresenta pôster sobre densidade populacional do mico-leão-da-cara-preta no XX Congresso Brasileiro de Primatologia

Atualizado: 28 de jul.

Evento aconteceu entre os dias 07 e 12 de julho, em Santa Tereza, no Espírito Santo.




“Primatologia Decolonial: aqui se faz morada” foi o tema escolhido para a edição de 2024 do Congresso Brasileiro de Primatologia, realizado na semana passada. De acordo com a organização do evento, a escolha da temática reflete uma abordagem estratégica no estudo e compreensão dos primatas e seu ecossistema – a ideia é entender o assunto no seu contexto, ou seja, não só pelos aspectos técnicos e científicos, mas também pelo contexto histórico, cultural e social. 


Conversamos com a Danila Syriani Veluza que é consultora na SPVS e uma das autoras do artigo apresentado no evento, sobre a participação da instituição no encontro, os principais destaques e as tendências na área de primatologia e conservação da natureza. Confira!  



SPVS. Em resumo, como você avalia o impacto da participação da SPVS neste encontro?


Danila Veluza. A participação da SPVS neste congresso representa um avanço significativo para o nosso projeto de monitoramento e conservação do mico-leão-da-cara-preta. Este evento, que reuniu tanto instituições conservacionistas quanto a academia científica, proporcionou uma oportunidade valiosa para apresentarmos nossos resultados iniciais e recebermos feedback de especialistas. Além disso, nossa presença no congresso fortaleceu nossa conexão com outros projetos de conservação e as pesquisas acadêmicas, estabelecendo um elo fundamental para a obtenção de resultados práticos e eficazes.



SPVS. Quais foram os principais resultados apresentados no evento?


D.V. Estivemos presentes no evento com a apresentação de um pôster intitulado “Estimando a densidade populacional para o mico-leão-da-cara-preta [Leontopithecus caissara] a partir de métodos distintos”. Nele, pudemos expor as metodologias que estamos empregando na fase inicial do projeto. Antes de qualquer ação de manejo, nosso objetivo é compreender a situação atual da população de mico-caiçara no PARNA-Superagui, já que a última estimativa populacional foi realizada há mais de 10 anos e indicava cerca de 400 indivíduos em toda a área de ocorrência da espécie (PR e SP). Desde então, não sabemos se o número aumentou ou diminuiu, e esse é o foco do nosso esforço atual. Através dos métodos de transecção e playback, iniciados em agosto de 2023, identificamos sete grupos de micos na Ilha de Superagui (PR). Esta pesquisa continuará até o próximo ano, permitindo-nos obter uma estimativa mais precisa a partir de um maior esforço amostral para este primata tão ameaçado.

Além disso, apresentamos um pôster com resultados de uma iniciação científica desenvolvida entre 2018 e 2020, utilizando câmeras-trap. O pôster, intitulado “Principais competidores alimentares para o mico-leão-da-cara-preta [Leontopithecus caissara] em duas Unidades de Conservação de Proteção Integral”, levantou a hipótese de que a irara e o macaco-prego são potenciais competidores do mico-caiçara. Por observação de campo, através dos registros das câmeras-trap, foi possível notar a presença dessas outras espécies na área de ocorrência do mico, sugerindo uma possível competição alimentar.


Nossa terceira participação no congresso foi uma apresentação oral sobre um caso de óbito de um indivíduo de mico-caiçara ocorrido no início deste ano em Ararapira (PARNA-Superagui) devido a um ataque de cão doméstico. Apresentamos os resultados da necropsia e dos exames realizados, além de discutir a problemática dos animais domésticos em Unidades de Conservação, um problema crescente na Ilha de Superagui. A morte de um exemplar saudável representa uma grande perda para a espécie e para todo o ecossistema da região e levantou preocupação da comunidade científica presente. Como resultado, o coordenador do programa “Macacos Urbanos” me procurou ao final, demonstrando grande comoção com a situação e oferecendo sua experiência para ajudar a pensar e executar algumas ações de manejo relacionadas a essa problemática.



SPVS. Como você avalia a experiência de participar de um encontro como esse, que reúne profissionais da área em um contexto nacional?


D.V. Eu tive a oportunidade de interagir com muitos profissionais e representantes de instituições com vasta experiência em programas de conservação. As palestras, simpósios e conversas nos intervalos foram momentos valiosos de trocas. Foi muito importante notar que outras instituições se interessaram e demonstraram preocupação com a conservação do mico-leão-da-cara-preta. Todos foram muito solícitos e dispostos a colaborar. Além disso, o evento permitiu que confirmássemos que estamos no caminho certo com a metodologia que estamos aplicando.


Nosso trabalho foi bastante elogiado por pessoas importantes do setor que visitaram nosso banner, e o feedback recebido foi extremamente positivo. Aprendemos com programas de sucesso, como a Associação Mico-Leão-Dourado e o Programa de Conservação do Mico-Leão-Preto do IPÊ, que também se mostraram dispostos a colaborar com a SPVS no nosso projeto e seus “primos”, os micos-caiçara.


Embora estejamos na fase inicial do levantamento, foi crucial confirmar que estamos utilizando as melhores práticas científicas disponíveis, levando em conta as tecnologias atuais. O uso de drones térmicos tem sido amplamente aplicado no levantamento de diversas espécies de primatas, mas tem apresentado desafios no monitoramento das espécies do gênero Leontopithecus, devido ao seu pequeno porte e uso do sub-bosque. Mesmo assim, estabelecemos conexões com profissionais especializados nesta tecnologia e planejamos testá-la novamente em Superagui ainda este ano para monitorar o mico-caiçara.


 A SPVS foi a única instituição presente no evento com trabalhos apresentados sobre o mico-caiçara, o que destacou ainda mais a importância do nosso projeto. As interações e trocas de experiências no evento foram inestimáveis e reforçaram a relevância do nosso trabalho.



SPVS. Quais novidades no âmbito da conservação da natureza você traz dessa viagem?


D.V. Neste evento que reuniu primatólogos de todo o Brasil (e de outras partes do mundo como África e Ásia), foi notável uma tendência que considero muito importante para o avanço da área e muito condizente com as ações da SPVS: os primatólogos estão cada vez mais focados em alinhar seus esforços de conservação com as comunidades locais.


O tema do congresso, "Primatologia Decolonial: Aqui se Faz Morada", destacou uma nova abordagem no estudo dos primatas e seus ecossistemas. Essa abordagem integra estudos científicos com os contextos históricos, culturais e sociais que envolvem os primatas. A decolonização visa desvincular a estrutura colonial que historicamente predominou no Sul Global. A ideia foi repensar a primatologia de forma que o Norte não seja visto como uma referência imposta, mas sim como uma construção que deve ser questionada e reinterpretada.


O congresso também contou com a participação de antropólogos, uma novidade em um evento científico na área da biologia, e focou em discutir como integrar as comunidades locais, que compartilham o habitat com os primatas que estudamos, nos esforços de pesquisa e conservação. Entender o habitat e as espécies também significa compreender as vidas e culturas das pessoas que vivem nesses lugares, dando voz e atenção a essas narrativas na construção do conhecimento. No nosso caso da SPVS no PARNA-Superagui, isso se refere à cultura caiçara; em outros casos, envolve comunidades indígenas, quilombolas e outras comunidades tradicionais, que possuem uma rica sabedoria, que merecem reconhecimento e lugar de fala, e que podem trabalhar juntas em prol de um bem comum.



SPVS. O que de mais curioso você pode “ouvir” no Congresso?


D.V. Além do destaque aos conhecimentos tradicionais das comunidades locais aplicados aos esforços de conservação, houve também discussões interessantes sobre o turismo com primatas como uma forma de movimentar a economia local e integrar a comunidade na conservação. Essa prática foi vista por muitos como uma maneira eficaz de gerar renda e engajar a comunidade, alinhando-se com o conceito de Produção de Natureza que a SPVS promove em seus programas de conservação. Esse conceito enfatiza a necessidade de manter as áreas naturais em pé, pois assim trazem benefícios econômicos e sociais para as comunidades locais em longo prazo. No entanto, também foram mencionados os desafios da gestão sustentável e fiscalização do turismo no Brasil.



Imagens: Danila Veluza




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