Não é a primeira vez que o Dia Nacional das Araucárias é comemorado em meio a um intenso debate sobre a proteção conservação da espécie e do ecossistema da qual faz parte.
Araucárias em São João do Triunfo (Foto: Nikolas Moya)
Ganhos e benefícios em favor da conservação de ambientes naturais como a Floresta com Araucária são duráveis e dialogam com interesses coletivos – como bem-estar, capacidade de resiliência das cidades, perenidade de um patrimônio natural e histórico, além da manutenção de outros importantes serviços ecossistêmicos, essenciais à qualidade de vida e aos negócios. No entanto, setores da sociedade ainda parecem distantes de um aprofundamento adequado neste campo. Não é a primeira vez que o Dia Nacional das Araucárias é comemorado em meio a um intenso debate sobre a conservação da espécie símbolo do estado do Paraná e do ecossistema ao qual faz parte.
Recentemente, diante de catástrofes naturais extremas, ocasionadas como efeito das mudanças climáticas, surge uma demanda emergente de empresas e instituições para compensação de emissões e reversão de padrões de gestão em busca da sustentabilidade, que, todavia, ainda carecem de inovação suficiente para o alcance de objetivos e, sobretudo, das metas internacionais estabelecidas em importantes acordos. De outro lado, ainda tímidos à urgente necessidade, avançam metodologias e instrumentos que reconhecem o papel da natureza para a economia, gerando modelos de negócios que estimulam e viabilizam condições de perenidade à conservação de áreas naturais e da biodiversidade. Estas ferramentas surgem com a proposta de valorar e gratificar a responsabilidade socioambiental de proprietários que mantém remanescentes de áreas naturais em suas propriedades e prestam um serviço inestimável à toda a sociedade.
Dentre os exemplos claros, merece ser mencionada a iniciativa de Pagamento por Serviços Ambientais, muito conhecida pela sigla PSA. Em termos bem simples, essa é uma ferramenta que retribui financeiramente os serviços ambientais a quem os provém, ou seja, aqueles que mantêm conservadas áreas naturais remanescentes. Este pagamento é feito de forma voluntária e pode contar com a participação da iniciativa pública, bem como, dos setores privados – participações essas que se tornam ainda mais efetivas quando concomitantes.
Tomemos como exemplo o Programa Desmatamento Evitado, desenvolvido há duas décadas pela Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS), com uma metodologia inovadora de PSA. SA partir da existência de um proprietário detentor de uma área relevante de Floresta com Araucária, com apoio técnico da SPVS e o suporte da Posigraf, empresa gráfica do Grupo Positivo, desde 2003 ocorre um apoio financeiro para a preservação, de 128 hectares da Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) do Uru, em 17 anos de parceria. Para a empresa Posigraf, adicionalmente às ações voluntárias de proteção da natureza, cabe citar um aproveitamento substancial desta iniciativa com a obtenção da Certificação LIFE, um mecanismo que reconhece ações adicionais e voluntárias de conservação da biodiversidade e que permite aplicação em todo o Brasil.
Além de viabilizar a conservação da biodiversidade, os esforços e recursos permitiram que inúmeras ações de educação ambiental, de turismo local e de pesquisa fossem desenvolvidos nesta Unidade de Conservação. Como desdobramento desta primeira iniciativa o Programa Desmatamento Evitado avançou para a adoção e manutenção de outros 3.500 hectares de florestas ameaçadas, que estocaram mais de 400 mil toneladas de carbono e que protegem recursos hídricos essenciais a diversos municípios.
Outro exemplo é o Projeto PSA/RPPN, executado pelo governo do estado do Paraná. Neste, alguns proprietários de Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPN), estão recebendo valores que variam de 10 mil a 50 mil reais ao ano, pela criação e manutenção correta de Unidades de Conservação particulares e pelos serviços de conservação da biodiversidade e de recursos hídricos proporcionados por estas áreas. Com várias possibilidades complementares nesta mesma direção, não é necessário colocar na balança para perceber que este é um negócio bem mais vantajoso do que lutar para se derrubar a floresta e vender sua madeira.
Embora os exemplos não sejam nem de longe exaustivos, demonstram que o investimento em conservação aliado a uma percepção concreta de oportunidades oriundas da manutenção de áreas naturais, inclui a entrega de resultados a toda a sociedade e para empresas que desejam investir para alcançar objetivos de crescimento aliados a uma visão de vanguarda em gestão ambiental. Num período em que tanto se fala sobre a necessidade de áreas naturais para saúde e resiliência das cidades, já existem condições plenas de avanço em mecanismos que gerem ganhos efetivos, não mais justificando iniciativas que minimizam os riscos e prejuízos de atividades meramente de exploração de recursos naturais, como é o caso de propostas de legislação que ainda buscam facilitar a destruição das Florestas com Araucária. Injustificável que em pleno 2020, diante de tão bons exemplos, o Dia das Araucárias ainda seja um momento de poucas comemorações e de muito trabalho, sobretudo, de conscientização.
* Artigo de Marina Cioato (assistente de comunicação da SPVS) e Nicholas Kaminski (coordenador do Programa Condomínio da Biodiversidade – ConBio)
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