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(imagem: Frepik.com)
Nunca se falou tanto sobre meio ambiente e suas mais diversas relações com bem-estar, saúde pública e qualidade de vida. Se há pouco tempo, esta era uma agenda que tinha pouco espaço e dificilmente ocupava grandes manchetes, diante da pandemia de Covid-19, este tema se tornou central no debate mundial. Hoje, Dia Mundial da Saúde, torna-se fundamental que compreendamos porque ‘saúde’ e ‘meio ambiente’ são dois temas que estão tão intimamente ligados que se torna impossível separá-los.
Em recente notícia sobre o coronavírus, divulgada pelo PNUMA (Programa das Nações Humanas para o Meio Ambiente), o órgão da ONU aponta que cerca de 60% de todas as doenças infecciosas emergentes têm alguma origem zoonótica – doenças transmitidas de animais a humanos. Em outras palavras, a maioria dos problemas de saúde guarda relação com aspectos do ecossistema. (Ler notícia na íntegra)
A isso somamos os recentes esforços das mais variadas instituições em comprovar que a relação das pessoas com ambientes naturais favorece aspectos físicos como imunidade, bem-estar e, também aqueles de ordem psíquica. Além disso, não devemos esquecer que o meio ambiente bem cuidado, com a manutenção de áreas naturais protegidas, é responsável pelo fornecimento de alimento, remédios, água, ar e outros serviços que criam condições de vida com qualidade. Não há um cenário que nos permita ver o ser humano desassociado do meio ambiente e vice-versa.
Cabe aqui um parênteses para responder àqueles que ainda acreditam que estes riscos são apenas de ordem individual e que qualquer trato mais cuidadoso ao meio ambiente prejudica o avanço da economia. O ‘The Global Risks’ – documento produzido anualmente pelo World Economic Forum, por meio de entrevistas com CEOs e outros líderes mundiais, aporta que os cinco maiores riscos a manutenção dos negócios são todos causas de origem ambientais, incluindo a perda da biodiversidade.
A principal pergunta que fica é o que podemos fazer então? Entre as medidas apontadas como mais importantes no combate ao coronavírus, está a prevenção. Acredita-se que esta ação tem importância equiparada aos estudos para possível cura das consequências do vírus. Para os problemas ambientais, não é diferente. Não basta que ataquemos os danos da degradação ambiental. É fundamental o desenvolvimento de oportunidades que garantam a manutenção de ambientes naturais bem conservados. Aprendemos com a pandemia que algumas consequências são irreversíveis e que não podemos nos permitir chegar a elas. Em questão de saúde e de meio ambiente, tão importante quanto a cura é a prevenção.
A segunda lição que aprendemos é sobre união. Soma de esforços. Parceria. Trabalho conjunto. Independente do termo, o importante é que entendamos que ações individuais impactam o coletivo e que individualismo é um primo próximo ao egoísmo. É preciso que tomemos atitudes de ordem coletiva. Que nossas ações particulares não sejam mais entendidas como insignificantes, elas fazem parte de um ciclo que necessariamente precisa do equilíbrio.
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Um bom exemplo de como prevenção e parceria rendem bons resultados em conservação da natureza, acontece no litoral dos estados de São Paulo, Paraná e Santa Catarina. A partir da liderança da Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS) e da Fundação Grupo Boticário se construiu uma rede de mais de 50 atores que juntos trabalham para manutenção de mais de dois milhões de hectares da floresta mais biodiversa do mundo – a Grande Reserva Mata Atlântica (clique aqui para conhecer a iniciativa)
Se de um lado temos bons exemplos, infelizmente, por outro lado ainda estamos diante de um momento de muita insegurança. O desmonte de órgãos responsáveis pelo meio ambiente, flexibilização das legislações ambientais e de processos licenciatórios, aceleração inadequada de avaliações de impactos ao meio ambiente e falta de fiscalização permanecem como ameaças constantes para pessoas e instituições que trabalham pela manutenção do patrimônio natural. O incremento destes desatinos representa grave risco para pós pandemia.
Superar uma crise pressupõe mudança de comportamento. Isso inclui nossa postura diante da devida valorização e cuidado para com a biodiversidade brasileira. Cada cidadão precisa assumir seu compromisso. Tomar para si a responsabilidade enquanto coletividade. Cobrar aqueles mais próximos. Buscar se envolver em ações públicas. Escolher governantes alinhados com políticas de interesse coletivo.
Se agora é hora de ficarmos em casa, é hora também de pensarmos no nosso futuro comum e no que ainda temos de patrimônio natural. Meio ambiente e saúde não se separam.
* Artigo escrito por Marina Cioato, auxiliar de comunicação da Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental – SPVS