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Os desafios da agenda climática na gestão municipal entre seriedade e união

Atualizado: 1 de out.

Foto: Reginaldo Ferreira

Muito além da evidente campanha eleitoral por meio das redes sociais, aparições em locais públicos e ganho de imagem das mais variadas formas, cabe aos eleitores se perguntarem: qual será o principal desafio e o que esperar dos futuros gestores municipais? Ainda que saúde, educação, moradia, e combate à violência sejam os principais temas aventados nas campanhas, há outro tema que permeia entre todos esses e muitos outros. Trata-se daquele “elefante na sala”, que poucos mencionam e quando o fazem, demonstram ações muito aquém do necessário para combatê-la ou minimizar seus impactos.


Eventos climáticos extremos são cada vez mais evidentes, sejam em chuvas concentradas, tempestades severas, períodos de estiagem e efeitos decorrentes, como falta d’água e incêndios. Não precisamos mais de artigos com projeções para 2030 ou 2050: basta apenas abrir a janela de casa para sentir na pele os efeitos. Ainda assim, a pauta da emergência climática quase nunca é mencionada nas plataformas de governo municipal. Quando é citada, se restringe a ações placebo, como os plantios de milhares de árvores ou aquelas ações aleatórias, sem muito direcionamento ou planejamento, que não são sequer suficientes para evitar ou minimizar as perdas sociais, ambientais e econômicas diante da emergência atual.


Para garantir que se cumpram compromissos sérios relativos ao clima e à biodiversidade, as ações relacionadas a esta frente requerem uma ação muito mais ampla, ousada e com os pés no chão. E o primeiro passo é reconhecer que o patrimônio natural existente nos municípios possui um valor inestimável, sendo a principal aliada neste processo. Uma cidade inteligente de verdade, reconhece o papel dos ecossistemas naturais protegidos. Eles são fundamentais para tornar a biodiversidade e as sociedades mais resilientes frente aos impactos das alterações do clima global, se apresentando como uma infraestrutura já preparada e com maior capacidade de resistência e recuperação quando afetados por eventos climáticos extremos. Além disso, fornecem uma ampla gama de benefícios dos quais as pessoas dependem diretamente para sua qualidade de vida – os chamados serviços ecossistêmicos.


Para isto, não há como dissociar uma visão integrada e com políticas públicas convergentes em um território comum a vários municípios, uma vez que a dependência destes serviços é direta. Torna-se mais do que urgente parar de olhar dentro dos seus limites e criar um novo padrão de gestão territorial, tendo como base a conservação do patrimônio natural, de forma estratégica, com vistas a oferecer resiliência às mudanças climáticas.


Mas, embora o poder público tenha o principal papel de interlocução, ele não possui capacidade de enfrentar os problemas decorrentes das alterações climáticas sozinho e depende diretamente da iniciativa privada e da população para encarar o problema e buscar soluções. O envolvimento do setor empresarial em programas de proteção e recuperação da biodiversidade é fundamental, dado o importante papel que ele desempenha em todas as esferas políticas do Brasil. As corporações devem internalizar (agora mais do que nunca), sua dependência quanto aos serviços ecossistêmicos. É necessário entender que se precisa fazer mais do que o licenciamento e a legislação exigem, ou a conta será muito maior do que o investimento. Os gastos para se recuperar os prejuízos no Rio Grande do Sul não deixam mentir.


Não serão apenas os planos de ação escritos no papel que nos livrarão de todo estes problemas. Compromissos sérios na proteção e gestão do patrimônio natural, um trabalho integrado entre municípios e iniciativa privada e investimentos estratégicos são imprescindíveis, se quisermos nos precaver minimamente para os eventos climáticos extremos. Ou, então, a conta virá alta e os prejuízos serão todos compartilhados, em maior ou menor grau. 


Nicholas Kaminski

Coordenador do Projeto Neutralidade Hídrica na SPVS


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