Entre os dias 20 e 22 de setembro, um grupo composto por estudantes do curso de Medicina Veterinária da Universidade Federal do Paraná (UFPR), técnicos do Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR-PR) e da Agência de Defesa Agropecuária do Paraná (ADAPAR), uma assessora técnica do sistema FAEP (Federação da Agricultura do Estado do Paraná) e uma jornalista, tiveram a oportunidade de participar de um evento voltado ao estímulo de práticas de conservação e conexão com a natureza nas Reservas Natural Guaricica e das Águas, em Antonina, duas das três reservas criadas e mantidas no litoral do Paraná pela SPVS desde a década de 1990.
O encontro fez parte da programação do curso de extensão em “Conservação e Produção de Natureza no território da Grande Reserva Mata Atlântica”, promovido pela SPVS, em parceria com o Sindicato dos Médicos Veterinários no Estado do Paraná (SINDIVET-PR). As reservas ficam localizadas dentro do território da Grande Reserva, que é composto por quase três milhões de hectares de Mata Atlântica ainda em bom estado de conservação, e outros tipos de vegetação, e que passa pelos estados do Paraná, Santa Catarina e São Paulo.
No dia 20, iniciando as atividades do curso de extensão, o grupo foi até o município de Colombo, na região Metropolitana de Curitiba, para conhecer a Embrapa Florestas – unidade voltada para o desenvolvimento de pesquisas –, e algumas ações e projetos desenvolvidos pela entidade, entre eles, o sistema de produção da erva mate e os chamados “pomares de araucárias”. O método desenvolvido pela Embrapa utiliza a enxertia a partir de brotos da copa de uma planta adulta que já produz pinhão. Os brotos enxertados têm a idade da árvore da qual foram coletados, por isso, eles se comportam como adultos e, assim, começam a produzir pinhão e pólen em menos tempo.
Depois, as pessoas se deslocaram até a Fazenda Canguiri da UFPR, em Pinhais, onde foram recepcionados pelos professores Anibal de Moraes e Leandro Bittencourt de Oliveira, além do Engenheiro Agrônomo da Embrapa Florestas, Emiliano Santarosa. Os profissionais falaram ao grupo sobre o Sistema de Integração Lavoura – Pecuária – Floresta, modelo que visa o fortalecimento da produtividade, otimizando o plantio de acordo com as características do terreno, priorizando a boa adubação, e, principalmente, praticando todas as etapas de forma ambientalmente correta.
Professor na graduação e na pós-graduação da UFPR, Anibal de Moraes, definiu como fundamental a vivência prática que, especialmente os estudantes de Medicina Veterinária, tiveram a oportunidade de experienciar. “A gente vê no meio acadêmico uma falta deste grande laboratório que é a natureza.É fundamental que o aluno tenha essa oportunidade, essa vivência”, defendeu.
Outro ponto significativo da vivência para os participantes foi o intercâmbio de experiências entre estudantes, profissionais das ciências biológicas e demais áreas das ciências agrárias. Cezar Amin Pasqualin, presidente do SINDVET-PR, destacou a importância da promoção de iniciativas que complementam o currículo tradicional acadêmico. “Por hora, estamos trabalhando com a UFPR, explorando ao máximo os experimentos que ela tem, trazendo os acadêmicos nessa concepção de multidisciplinariedade, com a finalidade de buscar a melhor sustentabilidade do nosso planeta. Com o tempo, nossa expectativa é envolver outras univerisdades”, indicou Pasqualin.
Nos dias 21 e 22, o grupo passou por duas Reservas Naturais da SPVS: Guaricica e das Águas, ambas localizadas em Antonina, litoral do Paraná. Na Reserva Natural da Guaricica, degustaram um café da manhã caiçara com pratos típicos produzidos pela comunidade local. Depois, participou de um bate papo com o Administrador Geral das Reservas da SPVS, Reginaldo Ferreira, sobre como aconteceu o processo de formação das Reservas Naturais e sobre as experiências que aqueles espaços poderiam proporcionar a eles, como visitantes.
O grupo também realizou, acompanhados dos colaboradores da SPVS que atuam nas Reservas Naturais, Sueli, Antônio e João Maria, a Trilha da Guaricica, e tiveram a oportunidade de aprender curiosidades sobre fauna e flora locais, plantar mudas para ampliar a área de floresta, sanar dúvidas e desfrutar de um “banho de natureza”.
Vitória Klinger Teixeira Silva, estudante do quarto período de Medicina Veterinária da UFPR, falou sobre a oportunidade de caminhar pela floresta que antes era utilizada como pasto de búfalos. “É uma experiência incrível, até porque sempre que a gente olha nos livros de História e Geografia vemos o antes e o depois: tudo bonito, cheio de floresta, cheio de vida, e depois, tudo desmatado. Aqui nós temos o inverso. É muito bom ver os animais, o rastro que eles deixaram. É bom ver que tem vida na floresta”.
No período da tarde, a equipe participou de uma conversa sobre “Conservação da Natureza” com Solange Latenek, Bióloga e Responsável Técnica da Escola de Conservação da Natureza da SPVS, e sobre “Produção de Natureza” com Ricardo Borges, Engenheiro Florestal e Coordenador de Comunicação da iniciativa Grande Reserva Mata Atlântica. Em ambas as conversas, o grupo aproveitou o momento para fazer perguntas, contar experiências, e, principalmente, refletir sobre a natureza e suas potencialidades. Ricardo Borges ressaltou o quão significativo é trazer para as conversas reflexões sobre possibilidades ambientais. “Falar de Produção de Natureza como alternativa de mercado, alternativa de uso do solo da região, principalmente, nesses territórios tão bem preservados que tem no Brasil, com uma diversidade enorme de espécies da fauna e da flora, e que têm oportunidades de trabalho das mais diversas, é muito valioso”. Ele ainda destacou a necessidade de se compreender a importância dos serviços ecossistêmicos para a existência e o bom funcionamento da sociedade.
No último dia do curso de extensão em Conservação e Produção de Natureza no território da Grande Reserva Mata Atlântica, foi promovida uma roda de conversa sobre histórias e práticas de restauração. Sueli, Antônio e João Maria, colaboradores da SPVS que atuam profissionalmente desde o início das Reservas Naturais, há mais de 20 anos, contaram para o grupo suas histórias de vida, que se entrelaçam com as histórias de trabalho.
Sueli Alves dos Santos, técnica de meliponicultura na SPVS, ressaltou que a roda de conversa foi muito importante para a imersão, porque contou com riqueza de detalhes os principais detalhes do processo de restauração feito pela SPVS nas áreas. “É importante que eles vejam a importância da SPVS na restauração das áreas e na restauração da vida das pessoas”.
Para Carla Beck, Assessora Técnica do Meio Ambiente do Sistema FAEP/SENAR-PR, a oportunidade de conhecer o projeto das Reservas Naturais da SPVS e a forma como tudo foi realizado foi interessante, mas conhecer os atores locais trouxe uma grande experiência para a imersão. “Esses dois dias foram bastante enriquecedores por essa proposta de entender que a gestão ambiental, todo o cuidado com a natureza, é de suma importância”, destacou.
No início da tarde, o grupo foi visitar a Reserva das Águas para conhecer os viveiros de produção de mudas e a agrofloresta produzida pela SPVS. Conversaram com os colaboradores que cuidam e mantêm a estrutura dos espaços. Tiveram a oportunidade para tirar dúvidas, de aprender sobre temas convergentes e identificar possibilidades de ações. Ao fim, todos seguiram até o Rio Mergulhão para se refrescar e, posteriormente, retornar à Curitiba.
Solange Latenek, Responsável Técnica da Escola de Conservação da Natureza da SPVS, organizadora da programação e da logística do curso, celebrou a experiência e a oportunidade de conhecer e apresentar projetos voltados para a conservação da natureza. “Encerramos a imersão de dez alunos de Medicina Veterinária da UFPR, junto com técnicos do IDR, da ADAPAR, da FAEP/SENAR, fazendo várias trocas de saberes, de experiências, levando em consideração várias formas de produção a partir da nossa visita na Embrapa Florestas conhecendo vários projetos, e passando pelos projetos da SPVS nas Reservas Naturais”, concluiu.