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Como a conservação auxilia no combate à desertificação e à seca?

Em 2023, ONU alertou sobre seca em escala mundial. Regiões do Nordeste brasileiro saíram da classificação de clima semiárido para árido - temperatura típica de desertos. COP-16 sobre Desertificação está prevista para dezembro.






O conceito de conservação ambiental tem ganhado cada vez mais espaço nas reflexões sobre o meio ambiente. Respeitar a renovação de recursos, proteger o ambiente natural de forma sustentável, além de restaurar e recuperar a natureza de forma consciente ajudam a ilustrar os principais objetivos da conservação ambiental. E em contrapartida aos ideais da conservação,  ações humanas que desrespeitam a biodiversidade, como o desmatamento, caça, uso inapropriado do solo, contaminação da água e  o desperdício de recursos naturais desafiam e ameaçam a vida na terra.


De acordo com a Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação (UNCCD), a desertificação se configura como um processo de degradação dos solos localizados em áreas onde se predomina climas classificados como árido, semiárido e subúmido seco, com exceção das regiões polares e subpolares.


Calor, seca, enchentes, mudanças de temperatura e demais impactos climáticos se tornam rotina. As consequências da desertificação afetam a todos, mas com maiores consequências para os grupos vulneráveis – como pessoas em espaços de agricultura familiar, povos indígenas e comunidades quilombolas.


Em entrevista exclusiva à SPVS, a mestre e doutora em Geologia Ambiental pela UFPR, Eliane Ferreti, explica que há dois processos de desertificação em curso – o primeiro, classificado como natural, está vinculado ao tempo geológico. A exemplo ela cita o Deserto do Saara, localizado no norte africano – há milhares de anos, a região era coberta por uma vegetação nativa, mas, por questões geológicas, como a deriva continental, oscilação do eixo do planeta e fatores climáticos, o local foi ganhando características típicas de deserto. 


Destaca-se o fato desse processo ter ocorrido sem a intervenção humana (antrópica) sendo, portanto, classificado como natural. Em contraponto, há o processo de desertificação presente em diversas regiões do planeta que avança em ritmo acelerado e que está atrelado às atividades antrópicas e às possíveis mudanças climáticas”, explica.


A professora alerta ainda para as diferenças entre seca e desertificação, baseadas no que define o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima. A seca, apesar de se configurar como um processo natural, é entendida como um fenômeno que se relaciona com a oferta e demanda de água, algo que afeta o equilíbrio hídrico. Está diretamente ligada a diminuição dos índices de chuva. Já a desertificação é uma manifestação que ocorre predominantemente em áreas áridas, semiáridas e subúmidas secas – e envolve as características desses tipos climáticos, além das atividades humanas como desmatamento, atividades agropecuárias, mineração, crescimento populacional, entre outras.



Pesquisa em números


Em janeiro deste ano, pesquisadores do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (CEMADEN) em parceria com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), descobriram uma área brasileira de 5 mil km com clima árido. Essa extensão abrange cinco municípios da Bahia e uma parte de Petrolina, em Pernambuco.


Dados do ano passado da ONU mostram um avanço no cenário de desertificação no Brasil com alerta para a seca.  O mesmo órgão constatou que uma em cada quatro pessoas em todo o mundo foi afetada por eventos extremos de seca. 


No mês passado, em uma audiência da Comissão de Meio Ambiente da Câmara dos Deputados, o secretário da Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação (UNCCD), Ibrahim Thiaw, falou sobre a alta nos índices de seca em relação ao ano de 2000. 


A cada segundo, o mundo perde o equivalente a quatro campos de futebol de terra saudável devido à destruição de vegetação nativa e ao mau gerenciamento da terra. Anualmente, isso totaliza 100 milhões de hectares”. E atentou para o cenário futuro: “Vamos precisar restaurar 1,5 bilhão de hectares de terra até 2030 para atingir a meta de neutralidade na degradação da terra. As secas (no mundo) estão ocorrendo com mais rapidez e representam uma emergência sem precedentes em escala planetária”.


Para a professora Eliane, é necessário um conjunto de ações mais expressivas em relação ao processo de desertificação – ela alerta para os períodos de coleta de dados sobre o fenômeno nas regiões afetadas, que deve ser mais constante, pois o resultado desses levantamentos pode ser a base para políticas públicas e ações mais efetivas. 



“Contribuir para minimizar as consequências do processo de desertificação envolve bem mais do que práticas diretamente relacionadas ao ambiente. Essas ações exigem uma transformação cultural, social, econômica e política de toda a sociedade, isto é, tanto do cidadão quanto das instituições governamentais ou privadas”. E complementa: “Além da agricultura agroecológica, desenvolver programas de turismo ecológico baseado nas características dos recursos naturais e culturais, objetivando a sustentabilidade e a renda da população local, também contribuirá para minimizar as consequências da desertificação”, conclui Eliane Ferreti, mestre e doutora em Geologia Ambiental.


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