Presença de animais como o papagaio-de-cara-roxa fortalece turismo de natureza e promove desenvolvimento econômico na região
O censo realizado no início de junho pelo Projeto de Conservação do Papagaio-de-cara-roxa no litoral do Paraná registrou uma população de 7.493 papagaios-de-cara-roxa (Amazona brasiliensis). O monitoramento demonstra uma população estável em relação à contagem de 2018, quando foram registrados 7.366 indivíduos.
O censo é uma atividade anual realizada pela equipe do projeto com o auxílio de voluntários. Neste ano, participaram cerca de 25 voluntários, entre eles moradores da região, pesquisadores, estudantes e conservacionistas. Para a psicóloga Maria Augusta de Mendonça Guimarães, que participou pela primeira vez como voluntária, o censo é uma experiência enriquecedora. “Participar de uma atividade que propicia o contato com a natureza já é enriquecedor por si só. Mas saber que o meu trabalho estava contribuindo para ajudar esse projeto que há tantos anos luta pelo papagaio-de-cara-roxa foi uma experiência muito gratificante e emocionante, não tem preço”, afirmou.
Para a realização do censo neste ano, a Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS) organizou uma campanha de financiamento coletivo que contou com mais de 40 doadores. Além deste esforço, também recebeu a contribuição do Parque das Aves, que possibilitou cobrir toda a área de distribuição da espécie no Paraná, estado que concentra cerca de 80% da população. Além de ser um indicador de resultados das ações de conservação, o censo populacional é também a principal ferramenta para a obtenção de informações sobre estimativa populacional e para registrar os deslocamentos dos grupos na região e as principais áreas de utilização.
A espécie, que é endêmica, é encontrada apenas em uma estreita faixa entre o litoral do Paraná e o litoral sul de São Paulo, localizada na porção central de uma área conhecida como Grande Reserva Mata Atlântica, que concentra os últimos dois milhões de hectares contínuos desse bioma no mundo. As áreas protegidas da Ilha Rasa da Cotinga (Reserva Indígena), Ilha do Pinheiro no Parque Nacional do Superagui, Ilha Rasa na Área de Proteção Ambiental (APA) de Guaraqueçaba e a Estação Ecológica Ilha do Mel compõem os principais dormitórios da espécie.
Anteriormente o papagaio-de-cara-roxa também habitava Santa Catarina, nos municípios de Itapoá e São Francisco, porém o último registro da ave na região foi feito em 1990. “A área de distribuição diminuiu ao longo dos anos. Na cidade de Guaratuba, que faz divisa com Santa Catarina, encontramos apenas 11 papagaios-de-cara-roxa neste ano. É um local onde a retirada de filhotes dos ninhos e a pressão urbana são muito fortes”, explica a coordenadora do Projeto de Conservação do Papagaio-de-cara-roxa, Elenise Sipinski.
Apesar da estabilidade da população, a possibilidade de desenvolvimento de empreendimentos no litoral paranaense representa uma grande ameaça para a espécie. A região de Paranaguá e Pontal do Paraná concentra quase metade dos indivíduos, que se deslocam até a planície litorânea em busca de alimento. A construção do complexo portuário privado em Pontal afetaria cerca de 3 mil papagaios, além de gerar outros impactos ambientais e sociais na região, como a redução dos remanescentes de Mata Atlântica próximos à Ilha do Mel. “Desde 2011, quando passamos a registrar uma população maior no Paraná, também passamos a contabilizar um número maior de papagaios descansando na Ilha da Cotinga e se deslocando para as planícies costeiras, o que demonstra que, para a recuperação dessa espécie, as planícies de pontal do Paraná e Guaraguaçu (Paranaguá) são áreas fundamentais, pois fornecem alimento e cavidades para a construção de ninhos”, ressalta Sipinski.
Como o recurso para a realização do monitoramento foi alcançado parcialmente, o censo não atingiu a área de São Paulo. Os pesquisadores consideram os dados do censo de 2018, quando foram registradas 1.746 aves.
Natureza como atrativo turístico
A presença de animais como o papagaio-de-cara-roxa fortalece o movimento turístico da região, além de promover o desenvolvimento de atividades como a observação de aves, também conhecida como birdwatching e de elementos históricos e culturais da região. “O litoral do Paraná abriga um relevante patrimônio natural em toda sua extensão, onde é possível registrar uma grande diversidade de fauna e flora que dependem desse ambiente para existir, como é o caso do papagaio-de-cara-roxa. Em conjunto com o litoral de São Paulo e de Santa Catarina, concentra o maior remanescente contínuo de Mata Atlântica ainda bem conservado em toda a costa brasileira”, ressalta Sipinski.
Ao mesmo tempo em que garantem a conservação do bioma, essas atividades promovem o desenvolvimento econômico sustentável e alavancam a economia dos municípios da região, por meio da geração de empregos e renda nos seus serviços locais, como pousadas e restaurantes. Um estudo realizado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), aponta que, em 2017 o Brasil registrou um total de 10,7 milhões de visitantes em suas Unidades de Conservação (UC), com a geração de cerca de 80 mil empregos diretos, R$ 2,2 bilhões em renda e outros R$ 3,1 bilhões em valor agregado ao Produto Interno Bruto (PIB). Além disso, os visitantes gastaram cerca de R$ 2 bilhões nos municípios do entorno das UC. Os resultados mostram que a cada R$ 1 real investido, R$ 7 retornam para a economia.